I. Evergreen

Evergreen

A estadia do jovem Orion naquela outra cidade não tinha tanto tempo assim, mas já era bem ocupada. Por alguns dias, ele tentou voltar com as autoridades, porém sem muito sucesso depois de descobrir que estava totalmente preso naquele espaço de dados. Obrigado a aceitar e reconhecer a sua nova condição, o rapaz decidia simplesmente viver como mais um dos habitantes daquele belo mundo.

Filiou-se a uma facção que havia se identificado e depois de certo tempo de viagem desde aquela capital, agora estava se adaptando em uma nova vida de aprendizados e tentando se conectar com o seu Digimon. No momento, ambos se encontram sentados na relva verde no topo de uma colina repleta de árvores, onde a luz do Sol penetra entre uma fenda entre os galhos e folhas.

- Tá, você me disse que é um Digimon, que é um ser de dados e etc., mas você não me disse o que você faz. Você luta? Você... sei lá, viaja? Ou só sai voando por aí? - Indagou, curioso.

- Se for pra te proteger, sim. - Respondeu prontamente a mamífera. - Ou se você quiser que eu o faça, para adicionarmos aliados. Sabe... O mundo passou por algumas mudanças bem grandes e de princípio, é difícil de explicar. Tudo anda bem perigoso, então é importante que outros Digimon nos ajudem a viajar, por exemplo. Ainda mais que você ainda é novo por aqui... É melhor irmos com calma, do básico. Esse templo é relativamente grande, tem bastante gente, acredito que podem te ensinar muito mais do que eu. - Terminou, com uma risadinha.

- Então vamos lá. - Se levantou, limpando a roupa de qualquer vestígio de grama. - Eu preciso conhecer mais sobre esse mundo que eu vim parar. Eu ainda tô bem perdido, não vou mentir pra você.

- E nem precisa, eu sei de tudo! - Revelou Lunamon, correndo um tantinho mais rápido para acompanhar seu mestre, que caminhava na direção da cidade com passos despreocupados.

Manhã - Ensolarado - Forest Shrine

Evergreen

As portas do templo mantinham-se escancaradas para qualquer um que fizesse parte da Thorn Blades, assim como as alas internas. O fluxo de pessoas também filiadas à facção era ainda maior dentro do templo, afinal os afazeres do alto escalão eram bem grandes. - ... está há dois dias sem sair. Levei um lanche, mas nem sei se comeu.  - Ouviu de relance uma senhora comentando com sua comadre, acompanhada de um Digimon insectoide com aparência bruta, mas gentil e que parecia preocupado. Seus cabelos eram grisalhos, puxando para um tom lilás, assim como vestia uma túnica dourada e uma coroa de flores vermelhas, com um rubi cravado no centro de sua testa. Depois desse comentário, a outra moça decidia seguir o corredor escuro até a tal pessoa.

Orion não deu muita importância, afinal não cabia a ele responsabilidades de outras pessoas. Mesmo assim, a velha tocava seu braço quando passava por perto dele. - Ora... Não vemos caras novas aqui há algumas semanas, ainda mais com um Lunamon. Seja bem vindo... Como é seu nome, rapaz?

- O meu é Orion, essa é a Lunamon como pode ver. - Respondeu com gentileza. O Kabuterimon companheiro da idosa estendia uma de suas mãos esquisitas na direção do rapaz e, meio relutante, cedeu à personalidade amigável da criatura dando um aperto de mãos. - Agradeço pelas boas vindas, senhora. Prazer...

- Meu nome é Ornellia. Esse é o Kabuterimon, que está comigo desde que eu me tornei uma das sacerdotisas desse templo. - Apresentou-se, enquanto olhava para cima e lembrava dos velhos tempos. Lunamon, entretanto, já tinha se entregado ao carinho da moça e até dava sua cabeça para receber um cafuné. - Depois de muito tempo sendo um Tentomon, ele se sente confortável nessa forma hoje, embora desperte nas pessoas alguma repugnância ou desconforto. Ele tem um ótimo coração, mesmo assim. Me ajuda sempre que preciso, me faz companhia e as vezes colhe umas flores para eu confeccionar outra tiara. Mudando de assunto, você não parece ser daqui. Sinto que você está bem deslocado, inclusive.

- Prazer, Kabuterimon! - Respondeu, mais acostumado e aberto ao Digimon naquela atual conjuntura. Respondendo a velha, voltou sua atenção à ela. - Há poucos dias eu vim para cá, não pude voltar para o mundo real e então decidi me adaptar e viver por aqui na ilha Elysium. Lunamon está me ajudando e o governo me sugeriu que eu me filiasse a uma facção para que me ensinassem pelo menos o básico.

- Entendo... Isso se tornou bem comum depois dos acontecimentos do Big Bang Digital que criou isso tudo. É uma coisa muito complexa de ser explicada numa conversa casual, mas mesmo assim, eu posso te ajudar um pouco. Na ala leste do templo estão organizando um esquadrão com o intuito de limpar algumas caixas de recursos pesadas. Eu irei colocar o mapa no seu D-Watch, assim você não se perde. Procure eles sim, afinal dinheiro nunca é demais.

- Obrigado! - Caminhou, em conjunto com Lunamon, ao interior do tempo. A projeção do D-Watch era certeira, representando-o como um pontinho verde entre os corredores, facilitando - e muito - que Orion achasse o grupo de pessoas. Chegando lá, a velha já tinha comunicado o superior, que o levou até as caixas onde umas sete pessoas o esperavam para começar.

- Tch! Pesado... - Murmurou o jovem, caminhando em passos largos e rápidos para se livrar daquelas caixas rapidamente. Ainda faltavam umas cinco. Vendo que ele tinha problemas para carregar aquilo, um grandalhão decidia parar e se oferecer para ajudá-lo.

- Quer ajuda, moça? - Prontificou-se, ao ver os longos cabelos de Orion balançando. Ele carregava três caixas, uma em cima da outra e ainda dava pra carregar mais. - Eu já disse que não deviam chamar pessoas com esse porte delgado para ajudar nesse tipo de trabalho. Só iremos atrair pessoas machucadas. Você precisaria de um ano malhando se quisesse chegar ao meu patamar.

- Não recuso... - Respondeu, abaixando a caixa no chão. - Na verdade, eu vim porque Ornellia me indicou. Realmente eu não tenho capacidade pra carregar muitas caixas, mas preciso do dinheiro.

- Ah! Entendo. - Falou, surpreso. - Sendo assim, eu posso te ajudar sim, mas aí você vai ter que me dar algo em troca. É bom de conta?

- Ah, eu me viro. - Respondeu, um tanto orgulhoso. - Qualquer coisa é melhor que carregar esses pesos.

- Então me segue. Pra diminuir o meu tempo de ter que fazer o trabalho de dois, pelo menos continua trazendo a que você tá na mão, já que tá no meio do caminho. Só não esquece de prestar atenção e não tropeçar em cima de mim e das caixas. O que é difícil, afinal você é um tantinho lerdo...

Sendo mais rápido, o homem de dois metros de altura quase sumia no horizonte, enquanto Lunamon e Orion ficavam para trás. Ambos demoravam um tempo para chegar na sala com apenas uma caixa, dando tempo dele fazer umas duas ou três viagens com três caixas cada. Quando finalmente a dupla chegava na sala final, todas as caixas já estavam por lá.

- Bem, nós precisamos apenas nos preocuparmos com as nossas caixas. Disse que era para contarmos, certo? É uma parte do esforço. Temos ainda que abrir e ver se os recursos estão intactos. Faltam duas lá, então eu pego e você começa a contagem nas que coloquei em volta da sala. - Anunciou o grandalhão. O novato logo tratava de contá-las, certificando-se de que o valor de caixas batia com as designadas para ambos carregarem.

No final das contas, Orion finalizava seu trabalho numa velocidade um tanto parecida com a que ele havia levado para carregar as caixas e então estavam quites. - Agora vai ter que me levar para tomar um sorvete. - Sugeriu, com um sorriso sugestivo no rosto. Separaram-se e então Orion foi direto ao início seguindo o mapa, pegando o prêmio de sua missão.

Manhã - Ensolarado - Forest Shrine
Missão II

Evergreen

Finalmente os olhos de Orion e Lunamon encontravam a luz do Sol novamente após uma manhã inteira de trabalho. O pagamento não era ruim, mas contar caixas e caixas, além dos seus componentes e ver se tudo estava nos conformes era bem estressante.

Conhecer aquele plaza onde a maioria dos Thorn Blades passava era pouco, afinal Orion não tinha tanta vontade de permanecer naquele lugar por muito tempo. Ele havia ficado enclausurado numa sala de hotel por dias, além de mais um tempo viajando até ali e agora condicionado à uma praça e um templo. Muito chato.

O jovem decidia afastar-se daquela civilização, contando com o mapa do D-Watch para guiá-lo. Lunamon não era muito de se meter nas decisões do rapaz, mas diante a sua inquietude, ela preferia quebrar o silêncio. - Você não acha que você tá indo pra um lugar perigoso, não, Orion?

- Eu só queria explorar um pouco. Tenho certeza que não encontraremos nada demais. - Respondeu, observando as árvores altas que cercavam as ruas da cidade. Por ali, não tinha muito mais o que fazer, além de se meter pelas árvores e sair nos arredores. - Precisamos conhecer o que tem por aqui, certo? Assim não nos perdemos o tempo inteiro e tenhamos que recorrer à boa vontade dos outros.

- Nesse ponto, você tá certo. - Falou, mais despreocupada e se permitindo descontrair um pouco. - Se alguma coisa acontecer, eu também tô aqui pra te defender. Também acho que nos arredores da cidade não devam ter Digimon muito fortes... Só espero que a gente volte antes da hora do jantar. A dona Clavel disse que ia fazer bolinhos.

- Tudo bem... Tudo bem. - Respondeu sem parar de andar floresta à dentro. Sem perceber, os limites da cidade já tinham passado há um certo tempo e eles estavam na Protocol Forest, domínio dos Digimon. Passos eram captados pelos ouvidos aguçados de Lunamon, até que a criatura decidia se revelar.

- QUEM DEIXOU VOCÊS ENTRAREM NOS MEUS APOSENTOS REAIS? - Berrou uma criatura minúscula, do tamanho de um gato, que aparecia com algumas flores numa cestinha de vime. Usando um salto alto improvisado com as heras venenosas que usava para absorver nutrientes do solo, ela se sentia a própria dona do lugar.

- Calma, a gente só tá andando por aqui. - Respondeu Orion. A criatura se enfurecia ainda mais, mas se tornava ainda mais fofa daquele jeito. Aquela raiva toda era quebrada pelo D-Watch, que dizia a respeito do Digimon da floresta.

"Palmon é um Digimon vegetal. Tem uma flor tropical desabrochando na cabeça. Embora tenha se digievoluído como um réptil de Tanemon, é um tipo incomum que é classificado como Vegetação com base em suas aparências externas e qualidades especiais, semelhantes a seu rival Floramon. Como um Digimon da Vegetação, ele se dá bem com o FanBeemon. Durante o dia, ele abre a flor e espalha seus braços em forma de folha para realizar a fotossíntese. Geralmente enterra seus pés semelhantes a raízes sob o solo e, embora absorva nutrientes, também é capaz de andar. Quanto à flor em sua cabeça, quando está alegre ou feliz, ela flutuará sobre uma doce fragrância, mas quando está com raiva ou sente perigo, ela libera um fedor que afugenta até mesmo Digimon grandes."

- É, mas esse aparelho aí tá esquecendo de dizer que eu sou a mais linda, a mais bonita, a mais cheirosa, a mais inteligente, a mais saudável, a mais... - Acrescentou a verdinha, cheia de si. Voltando à sua consciência, ela lembrava que se tratavam de intrusos e decidia reagir. - Epa, quase esqueci que vocês estão aqui de penetras no meu reino, mais precisamente no meu quarto. Curvam-se à sua rainha! Poison Ivy!

Palmon não dava chance de escolha, afinal seus braços estendiam-se na direção da dupla numa velocidade bem alta e Lunamon se via na posição de defensora agora. - Deixa comigo e se afasta, Orion!

Era inevitável que os ataques se colidissem, afinal o nível delas era bem pareado. A bola de água interceptava as "unhas" de Palmon e assumia uma coloração roxa brilhante, que estourava na própria Pokémon que enviava o ataque. Ela não conseguia deixar de escapar um "ai" por ser atingida pelo mesmo ataque. Orion só podia torcer, afinal era melhor deixar a situação para a sua parceira lidar.

Lunamon disparava mais uma esfera d'água na sua oponente. Tentando desviar, aquela planta ambulante demorava muito para ter o reflexo necessário e tomava em cheio. O disparo fazia necessário que ela recuasse, enquanto estendia novamente os seus dedos para chicotear sua rival.

- Você tá bem, Lunamon? - Preocupou-se Orion. Era a primeira vez que o rapaz se deparava com uma situação daquelas, então era de se preocupar. Mesmo assim, a Digimon concordava para que não se preocupasse. Ela escondia a marca do veneno em seu pelo e o seu mal estar, afinal aquele dano residual a fazia sofrer com uma aflição que acometia o seu corpo inteiro.

Com mais um disparo d'água, ela conseguia empurrar Palmon para uma distância segura. Reunindo as últimas forças, era mais uma logo depois e então o Digimon vegetal estava nocauteado. O veneno ainda afligia a mamífera e roubava a sua energia a cada momento, forçando Orion a usar o seu conhecimento para identificar as ervas que podiam fazer aquela dor passar.

- Não precisa, eu sei como tirar... - Anunciou Palmon, já de pé. - Isso vai doer um pouquinho, mas é como se fosse uma injeção. - Palmon tocou Lunamon com os seus dedos de espinhos e então sugava todo o líquido arroxeado que estava no sangue (?) da coelhinha, curando-a do seu sofrimento.

- Obrigada... - Agradeceu, movimentando seu corpo e percebendo que a dor tinha ido embora.

- Eu não queria fazer ninguém se machucar... Mas acabei sendo imprudente. Me desculpem... Não sei o que eu poderia fazer para ajudar vocês... - Palmon se encontrava um pouco desolada por causa daquela brincadeira que ela havia colocado em prática.

- Ah, você pode vir conosco. Precisamos de alguém com habilidades médicas como você e, sinceramente, acho que você conhece muito mais as ervas desse lugar que eu... - Sugeriu Orion, segurando um Digital Scanner e mostrando à ela. - Talvez isso seja o suficiente?

- É, pode ser sim. Será muito melhor que ser solitária por aqui. - Respondeu, entrando em contato com o Scanner e se tornando dados. Toda aquela aventura havia durado muito tempo e estava na hora de voltar à velha cidade caso eles ainda quisessem comer alguma coisa.

- Eu falei que a gente ia se atrasar para o jantar! Espero que a dona Clavel tenha guardado bolinhos... Devem ter comido tudo! - Reclamou a Digimon enquanto andavam para fora da floresta almejando o templo novamente.

Tarde - Ensolarado - Forest Shrine
Missão III